Fernando Gago: el gentleman de Mar del Plata
A beleza de um jogo de futebol tem uma dualidade de critérios que outras vertentes da sociedade não têm. O ponto de vista crítico de cada ser humano permite a existência da mesma. Somos todos diferentes e, como tal, vemos tudo de acordo com aquilo que experienciamos. Temos a sorte, ou o azar, de discutir diferentes formas de ver a bola a rolar e, assim, saber o quão divergentes podem ser as nossas opiniões das do nosso melhor amigo.
Todavia, há algo que creio ser consensual: Fernando Gago, enquanto jogador, era um gentleman. A veemência com que jogava futebol era espetacular. Desde a base da jogada, assumia o jogo como poucos e destilava passes exímios por todo o campo. Além das visíveis qualidades na relação com a bola, Gago mostrava-se ainda disponível para defender, fosse de que jeito fosse. Porém, algo o impediu de mostrar ao futebol o seu verdadeiro valor: as lesões.
Foram as sucessivas, e duras, lesões que fizeram com que Fernando tivesse uma carreira mais curta e não tão atrativa como aquela que muitos lhe apontavam. O lado negro de cada lesão demonstrou ao mundo do futebol um homem capaz de suportar tudo para voltar a brilhar dentro das quatro linhas e foi isso que realmente aconteceu até novembro do ano passado, o mês em que Fernando Gago decidiu pendurar as botas.
Fernando Gago: el entrenador
Um amante do futebol como Gago não pode estar muito tempo longe do fervor dos relvados. Então, a 16 de janeiro, o Club Atlético Aldosivi escolhe o treinador de apenas 34 anos para a nova temporada. À partida, é uma incógnita enorme. Nunca Gago havia sido visto a treinar anteriormente e não há forma de saber o que dali pode advir. Porém, os três primeiros jogos ao serviço do El Tiburón deixam ótimas sensações e ideias que nos alegram ao longo dos 90 minutos.
Para compreendermos Gago como treinador temos de o entender primeiro enquanto jogador, tal como acontece com Johan Cruyff. O argentino, à semelhança do holandês, era um jogador intenso. A bola tinha de andar sempre próxima dele para que o peso da batuta se assemelhasse ao de uma pena e fosse fácil para o agora treinador do Aldosivi espalhar magia pelo campo através do passe, das conexões com bola e das sinergias que estabelecia em campo. Um jogador que queria dominar o jogo através da posse e que o fazia com total evidência, como é possível ver na seguinte compilação.
¿Cómo juega Aldosivi?
Fernando Gago é um treinador adepto do Jogo de Posse, ou seja, de um jogo onde a sua equipa é dominadora através da posse de bola e explana em campo as suas ideias com base na manutenção da mesma. Ora vejamos:
O objetivo do CA Aldosivi passa por construir baixo de forma a atrair a pressão do adversário. Desta maneira, ao criar superioridades na primeira fase de construção consegue, através do passe vertical, atingir outras alturas, como a da zona entrelinhas, onde os jogadores têm um indicador de aceleração, o que lhes permite dar velocidade ao jogo através de um passe para as costas da linha defensiva ou em condução, procurando tirar elementos adversários do caminho.
Problemas: ¿cuáles?
O trabalho de Fernando Gago ainda é bastante precoce, porém, já são evidentes as ideias do treinador argentino. Ainda assim, há momentos do jogo que têm de ser melhorados, como as bolas paradas, onde a equipa sofre bastante por defender homem a homem. A defesa através de referências individuais torna fácil para o adversário marcar golo nesses momentos. Outro momento que tem de ser melhorado é a manutenção da posse de bola após estar em vantagem. É óbvio que isso acarreta uma grande maturidade da equipa, a qual ainda é baixa, porém, há necessidade de crescer nesse sentido para não ficarem tão expostos. A capacidade de ditar os timings de jogo é outro aspeto no qual a equipa tem de se debruçar: não podem andar constantemente a acelerar o jogo; têm de saber quando e como jogar pausadamente, de forma a chegar em condições ao último terço.
“Tenemos una forma de jugar y eso no se negocia”
Fernando Gago tem bem presente aquilo que quer e não se deixa influenciar por nada. Sabe como funciona o seu modelo de jogo e para ele é sagrado respeitá-lo. Esta parte desta conferência de imprensa demonstra-o e isso é bom. É bom ter treinadores convictos das suas ideias e capazes de aplicá-las, reconhecendo a evolução dos jogadores, como o mesmo é capaz de referir. O futuro é promissor. Resta-nos desfrutar.
